sábado, 16 de setembro de 2017

Carta

Cara Fulana.

Resolvi escrever, visto que você queria conversar comigo e eu recusei. Na verdade continuo recusando para a manutenção de minha saúde física e emocional. Posso ter soado agressivo em minha ultima missiva, mas fui defensivo ao extremo. Passei um ano de extrema dificuldade, onde quase 85% do meu salário foi para pagamento de juros e impostos atrasados.

Uma vez lhe acusei de ser abusadora. Você vociferou que não é eu, na condição de oprimido, me recolhi. Lamento informar, mas você é abusadora. Durante três meses sustentei sua casa em detrimento de mim, e quando disse que não poderia lhe dar os 1.800; você destilou seu abuso dizendo que precisava dançar... E eu lhe dei mais dinheiro, ness s três meses na verdade lhe dei mais de seis mil reais. Passei o mês de abril com menos de trezentos reais e ainda assim, minha única preocupação era você e sua mãe não passarem necessidades e que tivesse comida apresentável para lhe oferecer nas poucas vezes que você voltou a minha casa naquele período. Você foi abusadora quando em abril viajou para São Paulo com um de seus brinquedos sem se importar se aquele dinheiro que lhe dei era o dinheiro que eu tirava de minhas obrigações a pagar ou do meu supermercado e que eu não teria o que comer. Você foi abusadora quando comprou aquela bolsa vermelha com um dinheiro que não lhe pertencia e depois posa num corredor de motel para eu ver no Instagram... Por favor não diga que não era sua intenção pois você sempre fez comigo o que quis, pois sempre permiti que fizesse. Esta é a verdade. A lista é imensa, e começa em algum momento da sua vida antes de me conhecer. Você é abusadora quando trata homens por brinquedos, quando fudeu com aquele cara na mesa para que a mulher dele visse...

Você é abusadora no momento em que aceita, ainda que com desprezo por mim, toda a "sua" loja, sem se perguntar qual o custo disso para mim. Você foi abusadora quando disse que só estava esperando ver o momento em que eu falharia financeiramente com "minhas promessas" e me esperava ali, friamente, que eu chegasse ao fundo do poço pra  poder dizer que sabia que eu não cumpriria o que prometi. _Achei tão cruel quando você disse isso...

E quando você recebeu aquela intimação eu ainda imaginei um último ato heroico, lhe dando a minha casa... Essa que por necessidade tenho que colocar à venda para tentar amortizar minha dívida.

Você foi abusadora todas as vezes que me permitiu tratá-la com cônjuge, como quando eu me despencava cedo para levá-la à PUC nas manhãs de sábado, e lhe pagava o café da manhã, mesmo eu estando exausto e sem dinheiro. Isto... É abuso!!!

Em março, fantasiei ter escolha. Foi a última vez. Daquele dia 28 de maio até aquela sua poesia de março fantasiei muita coisa. Inúmeras vezes acordei no meio da noite achando que você havia chegado. Andava pela casa te procurando e me lembrava de tudo. Do que eu fiz, e me sentia mal, e chorava.

É um processo longo te arrancar de dentro de mim. E doloroso. Infelizmente isso sempre volta para a questão financeira. Vendi meu carro, meus móveis e até coisas simples da cozinha eu vendi. Tudo para dar para o banco. Agora estou vendendo meus livros e filmes. Consegui renegociar com o banco minha dívida pela quarta vez... E ela tornou a ser, novamente, uma dívida de dez anos... Nesse momento o ressentimento surge, pois não consigo tirar você de mim enquanto eu pago por isso... Sempre você; em detrimento de mim... Em detrimento de eu precisar ir a um dentista, mas não tenho dinheiro! De precisar fazer novos óculos, mas não tenho dinheiro! De precisar fazer um tratamento no meu joelho, mas não tenho dinheiro.

Mas eu vou pagar essa conta e você sairá, definitivamente, da minha vida. Não sei quanto essa aventura custou financeiramente, apesar de ter todos os números, não quero somá-los pois sei que essa consciência não me traria benefício algum. Sei apenas o preço emocional que pago e ele é muito alto.

Dia 28 de maio passado completou um ano e eu comecei a tentar um descarte emocional seu. Dois meses se passam tranquilos e então você me procura... voltei a te procurar virtualmente... Seu blog... Sua loja... Obviamente apesar de ser bloqueado, essa coisas de bloqueio não são lá muito boas e fui ver seu Instagram. Seu facebook não me interessa, imagino que seja desnecessariamente doloroso. 

Você tá lá com outro cara... 

Feliz. 

Indo pra São Paulo. 

Com ele.

Queria poder dizer que não te amo, ou que não te odeio, mas a verdade é que eu não sei o que eu sinto realmente além de alívio por não estarmos próximos.

Durante aqueles meses foi o meu sonho tentar realizar os seus, isso, entretanto, me custou a capacidade de sonhar.

Continuo achando você a mulher mais inteligente que já conheci, a mais esforçada e a mais talentosa, mas isso pra mim percebo que é pouco. Quero amor. Quero me dar a alguém com a fraqueza que me dei a você, mas que esse alguém perceba que nessa fraqueza está um coração terno, que não quer se esconder do outro como defesa pois estará tão desprotegido quanto possível, e assim juntando-se ao outro coração será inquebrantável em sua força conjunta e em seu caminho à felicidade.



Beltrano.