domingo, 28 de janeiro de 2018

A maldição do vale negro.

A maldição do vale negro
                                                Mauricio Ferreira.


Entre montanhas sombrias
Perco meu senso, vem perigo
Deixo-me solto, em risco
De onde não há retornar.

Penetro sua escuridão 
Encontro  minha luz lá perdida
O que é amor? Só partida?
Despedida, e não voltar?
  
Mergulho em teu vale negro
Sôfrego vou, me deleito,
Bebo tua fonte, teu leito,
Saudade, dói respirar.

Esse negror infinito
Puxa-me um útimo suspiro
Estraçalha tua gravidade 
O meu pobre coração
  
E tuas estrelas afiadas, sorriem 
Ao longe, em escuro mistério
Ah, Dionysos como quero.
Perder, perder-me, ceder.







Autorretrato em 3X4

Auto-retrato em 3X4.


sou síntese;
tese de meu pai,
anti-tese de minha mãe.

eu sou um abismo escuro e profundo.

talvez não...

(mas você nunca vai saber se não saltar.)

sou fácil, difícil.

sou sim.
não sou.
sou as vezes,

mas nunca sou.

sou quente,
as vezes frio;

nunca morno.

estou sempre perto,
ou sempre longe,
mudando de acordo com o seu referencial.

sou norte,
(mas meu olhar
sempre se perde
no horizonte
de onde a lua vem.)

sou calmo,
paciente
e quero tudo pra ontem; de manhã.

sou teimoso.

perdôo sempre,
mas também odeio mortalmente,
pra sempre;
pelos próximos quinze minutos.

sou absurdamente racional, e racionalmente incoerente.

sou verso e prosa. estribilho e refrão. sou poema concreto.

sou ponto, vírgula, ponto e vírgula, dois pontos, interrogação, exclamação. fecha aspas.

sou irritante, insuportável, eu sou terrível.

sou doce; meio amargo.

eu sou amor da cabeça aos pés.

sou homem, sou arte, sou marte! ahh... sou.

sou enlouquecedor, e a coisa mais calma do mundo.

nem penso. pulo no fogo pra buscar um amigo.

sou branco, ariano, preto e negão.

as três coisas que mais amo cabem em embalagenzinhas de 1.65m a pouco mais de 1.80m. mas duas delas ainda estão em fase de crescimento.

detesto jiló.
só como quiabo por causa do meu orixá
(ainda bem que ele não me pede pra comer com frequência, nem puro.).

sempre morro de saudade;

nunca, nunca admito.

sou um hipogrifo num embate mudo contra uma esfinge.

a vida pra mim nem sempre é uma questão;
decifro-te. devora-me,
não tenho medo de mordidas,
nem de morder!

vou viver muito, muito, muito. muito mesmo!

até quase encher o saco.

adoro Hamlet.

(Maurício Ferreira)

Matemática

Ela pra mim é matemática pura,
Dois e dois são tres, sete
Cinco mil duzentos e dezeseis.
Mas pra mim faz sentindo.

Olho pra ela e vejo cinema,
Trufautt, Gravas, Etore Scola
Ou os filmes que fiz mas já perdi em super8
E mesmo assim não canso de rever.

O que ouço dela é sua música.
Coltrane, Parker, Black Eyed Peas
E ritmos e canções que não conheço
Mas mesmo assim meu curacao quer pulsar igual.

Toco seu corpo como se fosse um livro.

Isabel

Isabel
                        Mauricio Ferreira


Te odeio com todas as forças
Isabel. 
Que direito que tivestes 
Libertando negro e pardo.


Justo agora que eu queria
Juntar minhas economias.
Roubar, furtar e pilhar.


Matar se preciso for.

Juntaria uma fortuna,
Quanto fosse, não importa.
Mas comprava o meu amor.


E a noite, no escuro da alcova 
junto a ela, lado a lado.
Eu seria livremente 
O que sou,
Sempre fui.
Desde o instante em que a vi.


Simplesmente seu escravo.

Corazon

Corazon.
                                    Mauricio Ferreira.



Eu abri meu peito inteiro
E mostrei meu coração.

Ela olhou ligeiramente.
E sorrindo disse não.

Breu.

Breu.
                        Mauricio Ferreira.



Tenho medo do escuro
E tudo que nele se esconde.
É um medo de criança
Daqueles que nunca some


Tenho medo a cada passo
Que esse escuro me devore.
Esse escuro é um iinfinito
Que estendeu em mim seu laço


Tateando em seu breu
Sinto, ele me consome.
Tenho medo do escuro
Mas nenhum de sua fome.


Esse escuro me apavora
Me congela com seu nome.
Tenho medo do escuro,
Mas se um medo maior tenho
É que o escuro me abandone.


Meu filho, João.

Meu filho, João.


                                    Mauricio Ferreira.


Perdão meu filho, te peço. 
Pois em meus sonhos ficaste.
Daí que partem as lágrimas
Por quem nunca conhecerei.

Choro a bola que não rola.
Os jogos, corridas
E histórias
Que à ti não contarei.

Ah, meu filho mulato
Como te quero e te amo.
Tanto te choro e lamento
Esse nunca te encontrar.

Te chamaria João,
Cândido que tu és.
E tu me chamava de pai

Ah meu pequeno almirante
Quantos barcos não te fiz
Para que ao mar lançai.

Mas espera meu pequeno
Quem sabe um dia eu renasça
E seja, eu, teu filho. Mulato,
E tu, meu pai sonhador,


Morte.

Morte.
                                    Mauricio Ferreira.




Eu sempre sonhei em morrer
No dia do meu aniversário
Como quem paga uma conta
Ou encerra um crediário

Em um círculo que se fecha
Morrer, sem nada dever.
Morrer fazendo uma festa
Morrer, e apenas morrer.

No dia do meu nascimento
Saindo da morte passada
Representa o arco da porta
Pela qual volta-se ao nada.

Morrer, e de novo nascer
Viver, amar, respirar.
Querer uma vida melhor.
As vezes morrer é sonhar

Amor em preto e branco.

Amor em preto e branco.


                        Mauricio Ferreira.




Meu humor é negro
Meu amor também.

O meu medo é branco
Pois o branco nada tem.

A solidão é branca.
A tristeza é branca.

Só a felicidade era preta.

Canção para a noite (Poema em andamento)

Canção para a noite.

Mauricio Ferreira


A noite vem com seus mistérios
E deleites

Nenhum segundo a poema incompleto)

Nenhum Segundo a menos.




Vou te amar por inteiro
A minha vinda inteira
E nenhum Segundo a menos.

Vou viver ao seu lado,
Sorrir, cantar e dançar
E sonhar essa vida passageira.

Quero a sorte de filhos contigo



Minha'lma

Minha alma.


Perdoe seu menino, mãe,
Conceição me envenenou.
Foi dando seu leite preto
Negro fez de mim seu filho

Desde então escondo isso
Embaixo da pele branca.
Esse preto que eu sou.

E quando olho o espelho
Juro, nunca reconheço
Um branco de lá me olha
Perguntando quem sou eu.

Sempre olharam diferente
Meus irmãos, e me viam
ao contrário do que são.

Meu oposto perto deles
Tão morenos, nem distante
Mas o oposto do que pensam
Eu sou trevas, não sou luz.

Graúna

Graúna.
                                    Mauricio Ferreira.

Em homenagem a Edgar Alan Poe.


Graúna, passaro preto
Fez meu peito de se ninho.
Só penso em Allan Poe
Quoth the raven, `Nevermore.'


O pássaro de galho em galho,
Me bicando de mansinho.
Comendo meu coração
She shall press, ah, nevermore!


A ave, penas lustrosas
Voa alto em seu caminho.
E meu peito despedaçado,
Of "Never-nevermore."'


E Poe, vem do além
Com seu corvo gargalhando
Os dois gritando alto
Ah Mauricio, nothing more.


Minha ave abre as asas
Preparando o seu destino
As lágrimas vão ficando,
With such name as `Nevermore.'


Aos poucos no horizonte
Minha graúna vai sumindo.
Deixando-me para trás,
Then the bird said, `Nevermore.'


Saudade de suas bicadas
Das ciscadas sobre o ninho.
E se foi em revoada.
Shall be lifted - nevermore!

Todo o ódio do mundo

O que eu faço 
Com todo ódio
Do momento (que tenho)
Por voce?

Você precisa
De ajuda,
De apoio,
(E talvez) Do meu ombro?

E eu me odeio
Por ter te odiado,
Um segundo que fosse
Por não ter te amado,
Não ter compreendido,
Que a sua dificuldade,
É como a minha


Só isso.

Desculpe-me

(Ainda te amo).