domingo, 6 de maio de 2018

Um caco de vidro.

Ela olha os cacos daquele coração espatifado. São cacos de vidro, afiados, prontos para cortar os pulsos na banheira quente. Dois Lexotans e adeus mundo.

Adeus sonhos, filhas, Sonhos de crianças correndo. Adeus qualquer chance de reconciliação. E o mundo se vai lentamente, mornamente e sonolentamente. A vida se vai em paz.

Paz agora. Paz para as mulheres e homens de boa vontade. Ai, que vontade de voltar atrás... reencher todo o corpo com o sangue e apenas tomar um banho de banheira.

Onde estão os óleos essenciais? O que mesmo era essencial? E a minha essência se esvai aos poucos naquela água rubra. A pele sem vida. A vida indo como sempre foi.

Ouço uma voz dizendo sucesso. Pela última vez sorrio. Penso nas palavras escritas na folha, no quarto. Diria tudo diferente. Diria adeus, fui embora.

O sono vem tranquilo. A vida se vai tranquila. Sem dor. Sem rancor. Sem esperança.

Nua na suíte vazia, só. Sozinha. Ela se vai aos poucos sem ninguém para salvá-la. Ela não precisa de príncipes. Ela se julga rainha. E sem reino, sem nada ela parte deixando para trás mais um coração despedaçado.

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